Quando se pensa em pele de bebê, logo vem à mente a ideia da pele lisa, macia, de cor uniforme, perfeita. Talvez seja, por isso, que os problemas de pele nos pequenos causem preocupação nos pais. Foi assim com o profissional de educação física Felipe Mochiute Cruz, 31. No momento em que notou uma vermelhidão e bolinhas no rosto do filho, Bernardo, então com 9 meses, ele logo pensou no pior. “Eu tenho intolerância a glúten, conhecida como doença celíaca, e uma das manifestações que apresento na pele é uma dermatite com lesões parecidas com as do herpes. Então, bateu aquele receio”, conta.
Quando os sintomas apareceram, Felipe e a esposa, a médica Fernanda Santos Belém, 31, estavam introduzindo uma grande variedade de frutas e legumes na dieta de Bernardo, atualmente com 1 ano, e suspeitaram que pudesse ser alguma alergia alimentar. Além disso, começavam os dias frios, o que também levantava suspeitas. O temor aumentou quando a vermelhidão se espalhou do rosto para braços e pernas e, então, Felipe procurou uma dermatologista pediátrica, que diagnosticou Bernardo com dermatite atópica. A especialista receitou alguns cremes hidratantes potentes e corticoide para que os pais utilizassem nos momentos mais críticos. “Depois que começamos a fazer a hidratação intensiva, a pele dele melhorou muito”, conta o pai.
Bernardo faz parte dos cerca de 20% de crianças que sofrem com esse problema de pele no mundo. No dia 23 deste mês, aliás, acontece o Dia da Conscientização da Dermatite Atópica, justamente para jogar luz às principais informações sobre a doença, que é genética, crônica, não contagiosa e muito comum na infância: 60% dos casos ocorrem no primeiro ano de vida, com melhora gradual até o final da infância, de acordo com dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). No entanto, a dermatite atópica é apenas um dos problemas que afetam a pele dos bebês. “Em países de clima mais quente e úmido, como o Brasil, infecções causadas por fungos (as micoses), por bactérias (como impetigo), a dermatite seborreica (que causa crostas na cabeça e sobrancelhas dos bebês nos primeiros meses de vida) e a miliária (conhecida como brotoeja) são outros males frequentes”, explica Silvia Soutto Mayor, coordenadora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Um estudo realizado em setembro de 2020 pelo Departamento de Medicina da Família do Lourdes Hospital, Kochi, na Índia – onde o clima também é quente e úmido – mostrou que as dermatoses (doenças de pele) pediátricas são um dos motivos mais comuns para a procura de ambulatórios de medicina de família. Em um período de dois anos, 36,5% dos pacientes infantis que foram ao seu médico de atenção primária tinham pelo menos um problema de pele. E, para 58,7% desses pacientes, a questão com a pele era a queixa principal. De acordo com o estudo, as doenças de pele mais comuns são eczema (dermatose que apresenta vários tipos de lesões) e infecções bacterianas, como impetigo e fúngicas, caso da micose.
A seguir, você confere os principais problemas que se manifestam na pele dos bebês e como ajudar seu filho a enfrentá-los.
1. Alergias de pele
O que são
Também conhecidas como dermatite de contato, essas alergias costumam ocorrer por irritação primária, ou seja, quando uma substância ou material, como poeira, produtos de limpeza, tecidos sintéticos, produtos cosméticos, entre outros, entram em contato com a pele da criança e desencadeiam irritação com coceira, vermelhidão e aparecimento de lesões.
Como lidar
Para evitá-las ou tratá-las, a primeira medida deve ser o afastamento das possíveis causas, bem como o uso de antialérgicos orais e, em alguns casos, corticoides de uso tópico nas lesões, indicados por médicos.
2. Impetigo
O que é
Infecção bacteriana comum e altamente contagiosa, encontrada mais frequentemente no rosto, mas que atinge outras áreas do corpo também. Pode surgir após um pequeno trauma ou picada de insetos. Ou sobre outras doenças prévias, como a dermatite atópica, quando a pele sofre com a contaminação secundária por bactéria. Apresenta feridas com secreções, crostas e, às vezes, bolhas.
Como lidar
Limpeza das feridas com água e sabão e remoção das crostas. Para as mais localizadas, cremes ou pomadas de antibióticos para uso tópico e, em casos mais intensos, antibióticos orais – com prescrição médica. Para prevenir infecções, sempre que a pele estiver ferida, limpe bem e evite que a criança coce para que não ocorra a contaminação secundária.
3. Dermatite seborreica
O que é
Popularmente conhecida como crosta láctea, ela é comumente observada no lactente – pode surgir nas primeiras semanas de vida – e desaparece até os 12 meses. Crostas branco-amareladas no couro cabeludo, testa e sobrancelhas, vermelhidão e descamação nessas regiões e também nas asas nasais são os principais sintomas. Ela pode ser provocada pelos hormônios maternos, ainda em circulação no organismo do bebê, que favorecem a secreção de sebo na pele – e o acúmulo se transforma em crostas. Outra causa possível é o crescimento excessivo do fungo Pytirosporum ovale, que vive naturalmente na pele e, em algumas crianças, por motivos desconhecidos, cresce demasiadamente.
Como lidar
O quadro é benigno, não transmissível e desaparece com o tempo. Exposição ao sol, óleo mineral ou vegetal para massagear as crostas do couro cabeludo antes do banho e xampus suaves infantis podem ser utilizados para o tratamento. Não precisa remover com pente ou outro acessório, já que elas se desprendem e saem sozinhas.
4. Assaduras
O que são
Trata-se de uma dermatite de contato irritativa da área coberta pela fralda, causada pelo toque prolongado da urina e/ou das fezes com a pele do bebê. O quadro clínico é de vermelhidão e até mesmo de feridas na região genital e do bumbum.
Como lidar
Podem ser evitadas com a higienização da região com algodão e água, ou lavando com sabonete suave infantil quando o bebê evacuar. Lenços umedecidos devem ser evitados e só utilizados na troca de fraldas quando a criança não está em casa. Aliás, ela precisa ser frequente para evitar a exposição da pele à urina e às fezes. Também é recomendado o uso de cremes de barreira (antiassaduras) a cada troca.
5. Eritema tóxico
O que é
Manchas vermelhas que aparecem, geralmente, no tronco e no rosto do bebê nos primeiros dias de vida. Ainda não se sabe ao certo por que aparecem, mas elas são benignas e não transmissíveis.
Como lidar
As manchas duram, em média, de três a sete dias, e desaparecem espontaneamente. Não exigem nenhum tratamento.
6. Brotoeja
O que é
A brotoeja ou miliária costuma ocorrer nas primeiras semanas do bebê. São pequenas bolhas (vesículas) ou bolinhas vermelhas (pápulas) localizadas nas áreas de maior transpiração, como dobras, pescoço, couro cabeludo, face e tórax. Ocorre por imaturidade das glândulas que produzem suor nesse período de vida do pequeno. A retenção dessa umidade na superfície da pele causa as lesões. Não é transmissível.
Como lidar
Roupas frescas, de algodão, além de banhos mornos, previnem as brotoejas. O tratamento se baseia nessas medidas para aliviar as altas temperaturas, além do uso de talcos líquidos no pós-banho, usados na pele limpa e seca. Outra dica é dissolver uma colher (sopa) de amido na água do último enxague do banho.
7. Pustulose cefálica neonatal (Acne neonatal)
O que é
Inflamação cutânea benigna, não transmissível e transitória, que ocorre pela adaptação da pele do bebê ao meio extrauterino. Surge na forma de pequenos cravos (comedões), pequenas pápulas (bolinhas vermelhas) e algumas pústulas (parecidas com espinhas com a ponta amarela), geralmente na testa e nas maçãs do rosto. A causa mais provável é a persistência de hormônios maternos após o parto.
Como lidar
Apesar do aspecto, a acne neonatal não deixa cicatrizes nem exige tratamento. Costuma desaparecer espontaneamente até o terceiro ou quarto mês. Portanto, resista e jamais esprema ou coce para não causar contaminação secundária.
8. Dermatite atópica
O que é
Um dos tipos mais comuns de alergia cutânea, caracterizada por placas avermelhadas que provocam coceira intensa, crostas e feridas devido ao ato de coçar. As causas são multifatoriais, compostas por fatores genéticos, que fazem com que a pele seja muito ressecada; fatores imunológicos, que favorecem a inflamação da pele; barreira cutânea alterada, que gera ressecamento; e alterações do microbioma (micro-organismos que habitam a pele, como fungos, bactérias e vírus), que podem levar a infecções secundárias. Alguns outros fatores de risco para desenvolver a doença são alergia a pólen, mofo, ácaros ou a pelo de animais; contato com materiais ásperos; exposição a fragrâncias ou corantes de fórmulas de cosméticos ou produtos de limpeza; contato com tecidos sintéticos e estresse emocional.
Como lidar
O primeiro passo é excluir os fatores de risco mencionados. Para tratar, é preciso recuperar a barreira cutânea que está alterada, por meio de medidas para evitar o ressecamento, como: banhos mornos e rápidos, com sabonetes específicos e o uso de hidratantes logo após o banho, na pele ainda úmida. Além disso, é necessário cuidar da inflamação das lesões com medicamentos de aplicação local (os mais usados são os corticoides) indicados pelo médico, de acordo com a idade e região da pele da criança.
9. Micose
O que é
Infecção superficial de pele, unhas e/ou couro cabeludo, causada por fungos. Eles podem ser transmitidos para a criança por contato com animais, com o solo (areia, grama) ou com outras pessoas contaminadas. Lesões com contornos bem definidos, vermelhas e, às vezes, levemente descamativas são os principais sintomas. Pode haver coceira.
Como lidar
Para tratar com antifúngicos (tópicos ou por via oral, em casos extensos ou com acometimento de couro cabeludo), deve ser confirmada a presença do fungo por meio de exames. Enxugar bem a pele e os cabelos, usar roupas leves, além de exposição solar controlada auxiliam no tratamento.
10. Urticária
O que é
Placas vermelhas e em alto-relevo que surgem repentinamente, em qualquer parte da pele, acompanhadas de coceira (prurido). Normalmente são causadas por infecções virais ou bacterianas, o que deve ser investigado, já que podem ser transmissíveis. Também há possibilidade de ser resultado de uma reação alérgica a medicamentos.
Como lidar
O tratamento consiste em identificar o agente desencadeante (no caso da infecção, por meio de exames), e o tratamento específico é feito com antibióticos ou antivirais, por exemplo. Se for causada por medicamentos, estes devem ser imediatamente suspensos. Os anti-histamínicos, em geral, de segunda geração (que não dão sono), podem ser utilizados para controlar a coceira, sempre sob orientação médica.
11. Mão-pé-boca
O que é
Causada por vírus (coxsackie ou outros enterovírus), é altamente contagiosa. Dentre as doenças de pele infantis, essa é certamente uma que causa bastante desconforto à criança. Que o diga a mãe em tempo integral Ana Keli Martins Abreu, 39. “De tudo que minha filha já teve, o mão-pé-boca foi o pior, ela sofreu demais”, lembra. “Anna Clara, hoje com 3 anos, tinha quase 11 meses quando enfrentou o problema. Ela não conseguia comer, ficou com o bumbum em carne viva. Eu não desejo essa experiência para ninguém.” A mão-pé-boca ocorre por meio do contato com secreções (saliva, coriza) ou fezes infectadas. Essas secreções podem estar, inclusive, em brinquedos que foram tocados por crianças doentes, daí a importância de creches e brinquedotecas serem higienizadas corretamente. A falta de apetite que afetou Anna Clara se dá por causa das bolhas que surgem na boca e na garganta e provocam muita dor. Elas também podem aparecer nas palmas das mãos, plantas dos pés, nádegas e região genital. Aliados a esse desconforto, é possível a criança apresentar vômito e diarreia, e febre alta nos dias que antecedem o aparecimento das lesões.
Como lidar
O tratamento consiste em repouso, hidratação, isolamento da escola e de outras crianças da casa, se tiver irmãos, por cinco a sete dias, e uso de antitérmicos, quando houver febre.
Hidratação é fundamental
332 Pele de bebe = pele perfeita? (Foto: Getty Images)
De forma geral, banhos rápidos, com água morna e uso de sabonetes neutros são medidas importantes para preservar a camada gordurosa protetora da pele. “A hidratação da pele com produtos específicos para bebês está indicada quando existem alterações da barreira cutânea [camada que protege e preserva a hidratação da pele], como ocorre na dermatite atópica. Eles são essenciais para restaurá-la”, explica a dermatologista pediátrica Selma Hélène, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). A aplicação do hidratante deve ser feita sobre a pele ainda úmida, portanto, logo após o banho, depois de enxugar suavemente a pele.
Protetor solar
Protetor ou filtro solar só pode ser utilizado a partir do 6º mês de vida. Até lá, bonés, chapéus e roupas devem ser as medidas adotadas para a fotoproteção nos bebês. Além disso, é importante respeitar a faixa horária adequada para a exposição ao sol (antes das 10h e a partir das 16h). Quando o pequeno puder usar, adote os produtos específicos para crianças. E lembre-se de que eles devem ser reaplicados a cada duas horas ou depois que elas saírem da piscina ou do mar. Não custa dizer que protetor solar deve ser aplicado diariamente, e não apenas nessas ocasiões.
Já os repelentes têm diferentes substâncias ativas (icaridina, DEET, entre outras) e a liberação para cada faixa etária varia de acordo com elas. Por isso, consulte sempre o pediatra antes de escolher o produto mais adequado para o seu filho. Quanto à aplicação, cuidado para não usar no rosto, nas mãos e nem sob as roupas. Também não é aconselhável passar repelente para dormir, por risco de maior absorção devido ao tempo prolongado na pele.
3 vilões da pele do bebê
1. Banho quente
Remove a camada gordurosa protetora da pele
2. Tecidos sintéticos, como poliéster e acrílico
Dificultam a transpiração
3. Uso excessivo e precoce de certos cosméticos
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, atenção especial a maquiagens e esmaltes, que podem predispor a irritações e eventuais fenômenos alérgicos. Pinturas na pele e tatuagens temporárias, ainda que “infantis”, também têm potencial para causar alergias. O ideal é postergar ao máximo o uso de tudo isso nos pequenos.
Fontes: Silvia Soutto Mayor, coordenadora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia; Selma Hélène, dermatologista pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein (SP)