A palavra amor carrega significados e representações presas em uma caixa. Por isso, muitas vezes, entendemos que só o sente quem o demonstra com abraços, beijos e, principalmente, palavras. Mas e quem ainda não consegue fazer isso? Sim, esse é o caso dos bebês.
Eles não são capazes de expressar com palavras o que estão sentindo, mas isso não significa que eles não o sintam. Aliás, pelo contrário! Dr. Cláudio Len, pai de Fernando, Beatriz e Silvia, pediatra formado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa, mostra que o amor vai além. “Qualquer um sente amor. É um sentimento orgânico do ser vivo. Mas é uma coisa que você dá, e a pessoa responde como puder”, comenta. “O amor passa através dos sentidos: audição, visão, olfato, tato e paladar – e algumas outras coisas que não conseguimos saber exatamente. Ele resulta de várias reações químicas que provocam nossos sentidos e produzem outros comportamentos – como carinho, cuidado e empatia”.
Um bebê que cresce recebendo amor vira um adulto cheio de amor para dar. Como o nosso cérebro é um conjunto de reações resultantes do nosso desenvolvimento neurológico, é natural que cultivemos aquilo que sempre nos deram. “Nossas melhores maneiras são sensoriais, sem dúvida”, diz ainda Dr. Cláudio. “Por isso, o carinho, o olhar, o toque, a conversa, o brincar – tudo o que um pai possa dar para um filho é a melhor forma de passar esse amor”.
Para além da ciência
O amor faz parte das relações e é capaz de ensinar muito para todas as pessoas. Mesmo com a ansiedade que a chegada de um bebê pode trazer para uma família, a gente garante: o medo de que seu filho não está sentindo o seu amor não deve fazer parte disso.
Amanda Pereira, mãe de Jorge e João, contou que foi por causa do amor que ela conseguiu atravessar a avalanche de emoções que permeou a chegada dos filhos – e estreitou ainda mais os laços com eles.
“Quando chega o bebê, você tem inseguranças, dúvidas, medos. Mas nenhuma dessas coisas são relacionadas ao amor que você sente por ele e como ele percebe isso”, diz ela. “Esse encontro é uma construção que já tem um direcionamento, e é uma conexão muito forte. Quer dizer, você chega perto do bebê e o seio produz leite! Isso é uma coisa muito poderosa. Aí vem o olhar, a pele, o contato físico, o banho, uma série de demonstrações de amor que a gente vai fazendo”.
E ainda completa: “Todo o cotidiano e toda a relação é pautada nesse amor incondicional. A mãe não tem cansaço, sono, fome – em primeiro lugar são as necessidades e os cuidados com o bebê. E certamente ele o sente, com esse entendimento emocional. Essa coisa de se acalmar quando escuta a sua voz, ou, quando ele busca o seio não só porque tá com fome, mas porque precisa de aconchego”.
O choro, o medo e a fragilidade de um ser que acabou de chegar no mundo mostram, por si só, a necessidade do amor. Por isso, a confiança que esse bebê vai ganhando com o tempo para que deixe ser cuidado pelos pais mostra que o sentimento, sim, está presente dentro deles. Silvia Lobo, psicóloga, psicanalista e mãe de Adriana, Suzana e Maurício, esclarece que a base de uma relação de afeto entre pais e filhos tem seus primeiros passos dados por quem o entende, em atitudes que podem até parecer simples demais.
“É esperado que o amor dos pais aos filhos anteceda o amor dos filhos aos pais. Os bebês demoram para conseguir dizer ‘obrigado’ ou ‘te amo’, mas demonstram esses sentimentos dormindo, comendo e crescendo. Bebês não são capazes de amar na sua chegada à vida e demandam muitos cuidados, zelo por sua sobrevivência e respeito por suas necessidades. Os pais que percebem o amor se manifestando dessa forma, se acalmam e se sentem recompensados”, diz Silvia.
Thiago Queiroz, por exemplo, pai de Dante, Gael, Maia e Cora, e autor do livro “Abrace seu filho” admite que viu o amor crescer pelos quatro filhos nos primeiros dias de cada um em casa, mesmo nos períodos de adaptação. E ver o laço entre ele e as crianças se estreitar foi parte de um processo muito especial. “Acho que essa linguagem do amor vai se tornando cada vez mais complexa à medida que o bebê cresce. Tudo acontece através do cuidado, faz parte do processo. Dormir juntos, estar perto quando esse bebê chora, seja por causa de fraldas, porque está com medo, com calor ou com frio”, diz.
Bebês sabem que são amados sem saberem o que é o amor. E isso acontece porque, antes de entenderem o que é esse sentimento, eles já o demonstram no vínculo com os pais. “Tudo isso vai se tornando uma linguagem cada vez mais complexa, até que a criança consiga entender o que é amor e, principalmente, que ela é amada”, acrescenta Thiago.
Para dar e receber
Os bebês têm um sentimento irracional e muito forte pela família. Por causa disso – e sendo o cérebro uma máquina complexa capaz de armazenar detalhes do que vivemos já no começo da vida – o amor que famílias destinam aos bebês é sempre muito importante. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA, mostrou que o amor que pais dão aos filhos tem influência direta no hipocampo – parte do cérebro responsável por habilidades cognitivas como a memória, o aprendizado e o controle das emoções.
Os cientistas acreditam que isso se deve ao fato de que, nos bebês, existe uma maior elasticidade do cérebro, que acaba sendo mais afetado pelo que foi vivido nos primeiros meses de vida. Resultado: as experiências afetivas de bebês não só são essenciais, como podem trazer consequências muito positivas para a vida adulta.
“Como todos os sentidos, a troca vai se desenvolvendo. Uma criança – nos primeiros anos de vida – vai tendo um desenvolvimento neurológico. E esse carinho e afeto vem de uma troca. Então um dos jeitos de você saber que está tendo essa troca de amor são as respostas dela”, afirma Dr. Cláudio. “Quando uma criança recebe amor, ela devolve o amor. E amor é isso: um sorriso, uma alegria, uma troca e um carinho”. O amor é complicado e até mesmo nós, adultos, temos dificuldade de entendê-lo. Por isso, muito mais do que seguir regras, se permita sentir ele ao máximo e seu filho com certeza irá senti-lo também.