Segundo um estudo publicado na Revista Pediatrics, crianças que têm uma alimentação vegetariana tiveram medidas nutricionais e crescimento semelhantes às crianças que têm uma alimentação carnívora. A pesquisa também descobriu que a dieta vegetariana pode ser associada a mais chances de baixo peso.
Os pesquisadores do St. Michael’s Hospital of Unity Health Toronto, no Canadá, analisaram quase nove mil crianças de seis meses a oito anos, entre 2008 a 2019. Os participantes do estudo foram classificados por status vegetariano (que não come carne) e não vegetariano.
Segundo a pesquisa, crianças que são vegetarianas tiveram um índice de massa corporal (IMC) médio, altura, vitamina D, ferro e níveis de colesterol similares em comparação com as crianças que consumiam carne. Não houve indício de associação com sobrepeso ou obesidade. Os pesquisadores também apontaram a qualidade da dieta como limitação do estudo, e enfatizaram que é importante o acompanhamento com profissionais da saúde para monitoramento do crescimento e nutrição das crianças.
“Este estudo demonstra que crianças canadenses vegetarianas têm o crescimento e os indicadores bioquímicos de nutrição semelhantes em comparação com as crianças não-vegetarianas”, disse Jonathon Maguire, um dos autores do estudo e pediatra do St. Michael’s. E completou: “A dieta vegetariana foi associada a maiores chances de status de baixo peso, ressaltando a necessidade de um planejamento alimentar cuidadoso para crianças com baixo peso ao considerar dietas vegetarianas.”
Criança vegetariana? Pode, sim!
Na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, a escola primária Active Learning Elementary School foi a primeira a adotar o cardápio vegetariano, depois de observar a preferência dos alunos por essas refeições. A escolha teve a aprovação dos pais e, de 400 crianças, 90% aderiram. A proposta foi adotar uma dieta mais saudável, sem perder nutrientes que são encontrados nas carnes, principalmente nesta fase de crescimento. O cardápio inclui feijão, queijo, tofu, grão-de-bico e molho de gergelim.
Os alunos também podem levar o seu próprio lanche. Isso significa que as crianças que optaram por não tirar a carne da lancheira podem continuar com o seu almoço normalmente. O que foi observado pelos professores foram notas mais altas no boletim dos vegetarianos, além de uma maior capacidade de concentração.
“No caso dessa escola, eles reduziram o consumo (de proteínas animais) e substituíram por proteínas vegetais, sem trazer nenhum risco de déficit proteico. Sabemos que a falta de proteínas prejudica a produção de dopamina e adrenalina e, consequentemente, falta de energia e diminuição no estado de alerta”, explica a nutricionista Elaine de Pádua, da Clínica DNA Nutri e mãe de Isabella.
Fique ligado no cardápio!
Não é por adotar uma dieta vegetariana que a criança será mais saudável. “O maior risco de deficiência neste caso seria de vitamina B12 e ferro. Assim como qualquer dieta tradicional, as dietas vegetarianas podem ser ou não adequadas do ponto de vista nutricional. Isto vai depender da qualidade e quantidade dos alimentos que compõem o cardápio”, explica a nutricionista.
Então, se as crianças vegetarianas forem alimentadas com esta atenção, o crescimento será normal. Além disso, estudos da Associação Dietética Americana e da Academia Americana indicam que uma dieta vegetariana de qualidade pode prevenir doenças como hipertensão, diabetes, sobrepeso e até câncer. A justificativa é a baixa quantidade de gordura saturada e colesterol em verduras e legumes.
O risco
Se a dieta não for balanceada, pode afetar negativamente a saúde das crianças. É necessário substituir a carência de certos nutrientes, como a Vitamina B12. “A B12 é necessária para formar o sistema nervoso nas crianças, age na produção de células novas, na produção do sangue e sua deficiência pode causar anemia”, explica Elaine de Pádua. Nesse caso, pode ser necessário receber suplementos da vitamina.
Já uma dieta com pouco ferro pode gerar cansaço, fraqueza e também anemia. O efeito seria justamente o contrário: o aluno não teria um bom desempenho escolar e o crescimento também seria afetado. O ferro presente nos vegetais não é tão bem absorvido como os que estão nos alimentos de origem animal. É possível combinar com alimentos ricos em Vitamina C, que auxiliam nesse processo. “Neste caso, inclua no cardápio laranja, acerola, caju, goiaba, maracujá, limão, morango, tomate, entre outros. Evite consumir chá ou café logo após as refeições, já que este hábito pode atrapalhar na absorção do ferro”, orienta.
O cálcio e a Vitamina D também são nutrientes importantes e que estão relacionados à formação dos ossos na adolescência. “O ideal é ingerir alimentos ricos em cálcio que substituem a sardinha em lata, como o tofu, leite de soja enriquecido, feijão, couve-manteiga, brócolis, almeirão, espinafre, agrião, mostarda, rúcula, melado de cana, quinua, aveia, entre outros”, diz Elaine. Para a vitamina D, a opção é tomar sol diretamente na pele cerca de 20 minutos por dia antes das dez da manhã, quando o sol está baixo.
Fique atento ao peso e à estatura da criança para checar se a quantidade de calorias não está sendo prejudicada. Um acompanhamento médico, nessa situação, é o ideal. “É possível conquistar hábitos saudáveis, promovendo um crescimento e desenvolvimento ótimo, desde que haja planejamento na alimentação. Alimentos variados, coloridos e em quantidades ideais, que atendam às necessidades de cada um, seja a criança vegetariana ou não: o equilíbrio é a chave do sucesso”, diz a nutricionista.