Entre gripes, resfriados e covid, uma das doenças que costumam circular nessa época do ano é a laringite. Embora não seja exclusivamente da infância, a inflamação costuma causar um quadro chatinho nos pequenos, que podem até ficar sem voz.
A laringite nada mais é do que uma inflamação que atinge a laringe, onde estão localizadas as cordas vocais. Geralmente, é causada por vírus, alergias ou outros agentes irritantes respiratórios. Incômoda, ela provoca dor de garganta, rouquidão e uma tosse seca, apelidada de “tosse de cachorro”. Casos mais leves costumam passar em poucos dias com tratamento em casa mesmo. Já nos casos moderados ou graves, vêm acompanhado do chamado estridor, um chiado forte bem característico que pode ser ouvido até sem o estetoscópio. E muita atenção a este barulhinho, pais e mães: se ele surgir, é hora de correr pro PS.
“Quando a criança apresenta ruído ao respirar e a região do pescoço, conhecida como fúrcula, ou a região das costelas afundam, é um sinal de desconforto respiratório. Nestes casos, é necessário buscar ajuda hospitalar e medicamentos que só podem ser administrados lá para melhorar”, alerta Caroline Peev, pediatra e coordenadora do Pronto-socorro do Sabará Hospital Infantil. A seguir, com a ajuda da médica, respondemos todas as dúvidas sobre a laringite em crianças.
Quais os principais sintomas?
A pediatra Caroline explica: “A laringite é um processo inflamatório, onde há um aumento nas partes moles, ou seja, um edema na laringe, que é uma cartilagem que envolve nossas cordas vocais. Esse aumento causa uma diminuição da mobilidade, impedindo que as cordas vocais vibrem corretamente, o que resulta em rouquidão na criança”, diz a médica.
Esse sintoma pode ainda ser acompanhado de dor de garganta e tosse seca (sem muco), também com um som mais rouco, apelidado de “tosse de cachorro” ou tosse ladrante, por conta do movimento reduzido das cordas vocais. Em casos graves ou moderados, pode causar desconforto respiratório e perda de voz. É possível também que a criança pegue outro vírus ou bactéria junto com a laringite e apresente outros sintomas, como febre, no caso de infecções virais.
O que é estridor?
Trata-se de um sintoma bastante específico e relevante quando o assunto é a laringite. O estridor é um som agudo que a criança faz ao respirar. “O edema causa uma diminuição da mobilidade das cordas vocais e, em certo momento, começamos a ter dificuldade de entrada do ar. E isso produz esse barulho que chamamos de estridor. E sim, ele é um sinal de alerta”, explica a coordenadora do Pronto-socorro do Sabará.
Quais os graus de gravidade da laringite?
- Leve: caracterizada por uma rouquidão discreta e passageira, que não causa desconforto respiratório.
- Moderada: neste grau, há um desconforto um pouco mais relevante, mas ainda não há necessidade de oxigênio. A criança consegue respirar corretamente e pode apresentar apenas um estridor leve.
- Grave: neste estágio, a criança já respira com muita dificuldade e pode apresentar cianose (coloração azulada ou arroxeada da pele). O ruído respiratório também é alto, com um estridor que pode ser ouvido sem o estetoscópio. Este é um caso de emergência que precisa ser encaminhado ao PS.
O que pode causar a laringite?
A laringite pode ser causada por infecções virais, geralmente associada aos vírus respiratórios, como rinovírus, influenza, vírus sincicial respiratório (VSR), entre outros, que causam inflamação na laringe. Bactérias também podem estar associadas ao quadro em alguns casos, além de irritantes ambientais que podem desencadear uma resposta inflamatória, como poluição, produtos químicos e até cigarro e poeira.
“A laringite ocorre com uma frequência razoável em crianças, mas algumas têm uma predisposição alérgica maior, como quem tem rinite ou asma. No entanto, é importante lembrar que não é uma doença exclusiva de quem tem alergia, porque a laringite pode ser causada por vírus, ácaros, poluição… Além disso, temos uma laringite que chamamos de crupe, causada pela bactéria da difteria”, explica Caroline. Felizmente, para prevenir o crupe, já existe a vacina pentavalente ou hexavalente, que deve ser administrada aos 2, 4 e 6 meses de idade, protegendo contra a difteria bacteriana, tétano e coqueluche.
Existe uma idade em que o risco é maior?
Democrática, a laringite pode atacar em qualquer idade. “No entanto, quanto mais jovem, maior a chance de ela evoluir para uma insuficiência respiratória. É igual a bronquiolite: quanto mais nova a criança pega, maior a chance de desenvolver uma doença grave devido à imaturidade pulmonar e à falta de músculos para respirar adequadamente”, diz a pediatra. Ela acrescenta que as crianças em idade escolar acabam mais vulneráveis à circulação dos vírus respiratórios e portanto, têm mais chance de desenvolver a laringite.
Como diferenciar de outras doenças respiratórias?
O diagnóstico da laringite é feito através do exame físico clínico. “Basicamente, ouvimos o estridor, realizamos a ausculta pulmonar para checar outros ruídos específicos, mas não é necessário um exame laboratorial ou raio-x”, diz Caroline.
Para diferenciar a laringite de outras dores de garganta, é preciso buscar os padrões distintos: na infecção de garganta comum, geralmente há presença de pus, o que não ocorre na laringite. Na dúvida, também é possível fazer uso de teste de Streptococcus, utilizando um swab da garganta para diagnosticar infecções bacterianas na região.
Já a pneumonia, que também poderia causar um barulho no peito, é diferente do estridor característico da laringite. “O da pneumonia precisa de estetoscópio para escutar o som, já o da laringite, a gente escuta sem, apenas com os ouvidos já é possível perceber”, explica a pediatra do Sabará.
Como é o tratamento?
Nos casos leves, o tratamento é simples e domiciliar para aliviar os sintomas: inalação com soro fisiológico, lavagem nasal e eventualmente, o pediatra pode indicar um corticoide oral. Caroline também sugere que a criança aproveite o vapor quente do banho, o que também ajuda bastante a melhorar esse quadro.
Ela ainda aproveita para desmistificar que tomar uma bebida gelado poderia prejudicar ainda mais a garganta. “Não interfere, o ato de engolir não está relacionado com piora dos sintomas, porque estamos mais focado na respiração e não na deglutição”, diz ela. No entanto, é importante notar que a garganta estará sensível e pode doer para algumas crianças. Em média, a melhora ocorre em torno de dois dias, sem muitas complicações. Não gritar, beber bastante água e descansar também ajudam na cura.
“Já no caso da laringite moderada para grave, precisamos utilizar a inalação com adrenalina para diminuir o inchaço ao redor das cordas vocais. É por isso que, nesses casos, uma ida ao pronto-socorro é obrigatória”, explica Caroline. Por isso, fique atenta ao estridor; ele é o sinal mais claro de que é preciso correr pro hospital, certo? Nestes quadros mais severos, a laringite costuma melhorar gradualmente em torno de 5 a 7 dias.
Há ainda a chance de que outra enfermidade possa aparecer associada a uma laringite, como por exemplo, amigdalite. Nesse caso, o tratamento pode envolver mais procedimentos e medicações, como, por exemplo, o uso de antibióticos, indicado apenas se houver uma infecção bacteriana associada.
Tem como prevenir?
É possível prevenir a laringite bacteriana mantendo o calendário vacinal atualizado, já que é uma doença que tem imunizante. Além disso, as crianças que têm alergia também precisam estar com o tratamento em dia quando o outono-inverno se aproxima. “Mantenha o tratamento de rinite e asma, pois isso ajuda a prevenir que a criança alérgica desencadeie um quadro de laringite”, diz a pediatra.
No mais, retome também as medidas de distanciamento social neste período de maior circulação de vírus respiratórios. Evite lugares aglomerados, sem ventilação e lave as mãos com frequência. Tudo isso ajuda a manter a laringite longe da sua casa!
“Tem que ter paciência com o outono, uma época com muitas infecções respiratórias. Mantenham as consultas em dia com o pediatra para ter essa orientação correta e evitar idas desnecessárias ao pronto-socorro, que além de ter uma espera muito maior, você pode pegar outras doenças”, conclui a médica.