A apraxia é um distúrbio neurológico, que é caracterizado pela dificuldade de programação dos movimentos motores da fala. Há algumas causas para desenvolvê-la, como infecção, doença ou trauma que a mãe teve após o nascimento ou transtornos do neurodesenvolvimento, como tumor cerebral ou AVC. Dessa forma, as crianças que têm essa condição apresentam maior dificuldade nesse sentido. Tatiane Lettieri Conte, fonoaudióloga, mãe de Isabella explica: “Elas têm ideia do que querem comunicar, mas o cérebro, na hora do planejamento, falha”, isso porque não consegue programar a sequência de movimentos necessários para produzir sons e formar sílabas, palavras e frases.
Não confunda, nem toda criança com dificuldade no desenvolvimento da fala tem ou terá apraxia. Esse atraso pode ser causado por vários fatores. Vale a investigação, por isso procure sempre um médico da sua confiança para te orientar. A apraxia, muitas vezes é confundida com o transtorno de autismo. Tatiane conta que isso ocorre, porque as diferenças são sutis: “No caso de autismo, a característica mais comum é o atraso da fala e tem dificuldade no desenvolvimento. Já a criança com apraxia compreende a linguagem, mas tem dificuldade de se expressar corretamente”.
A especialista conta que, na apraxia, é como se a criança não soubesse o que vai fazer com a própria boca. Há dois tipos desse distúrbio: apraxia pura, quando é específica e não está associada a outra condição; e associada a outra condição como autismo e síndrome. “Muitas vezes não é possível diagnosticar uma criança com menos de 2 anos, porque ela não consegue compreender as instruções específicas para cumprir a tarefa”, justifica, por isso entre 2 e 3 anos, quando o fonoaudiólogo suspeita do quadro, indica alguns meses de terapia para confirmar, e reforça: “A intervenção precoce é muito importante para obter os resultados mais significativos”.
Dificuldades apresentadas por crianças com apraxia
- Dizer palavras mais compridas
- Problemas com coordenação e habilidades motoras finas
- Instabilidade na produção da fala (oscila com dias que fala bem e outros que fala mal)
- Déficit no tempo de duração dos fonemas (lentidão para falar)
- Repertório limitado de vogais
- Confusão no ponto articulatório (por exemplo, quer falar pato, e fala gato/lato)
- Pobre inventário fonético (os pais têm impressão que a criança não sabe o que quer fazer com a boca, parece que desconhece os movimentos necessários para fala)
- Dificuldade para se alimentar e mastigar
“A fala é um processo cerebral, que envolve os músculos da boca, da fala, e linguagem. O controle motor da fala é complexo e depende de mecanismos cerebrais específicos e no quadro de apraxia, esses mecanismos não conseguem se integrar. Então vão gerando falhas no processo, no planejamento e na execução da fala”, pontua Tatiane. Por isso a terapia, guiada pelo fonoaudiólogo, traz atividades lúdicas que têm objetivo de ajudar a criança a aprender como realizar esses movimentos para produzir palavras, frases e se comunicar.
“Quanto mais a criança ganhar confiança em assumir esse risco, mais vai se beneficiar da terapia. Por isso, para a evolução do caso, o papel da família é muito importante”, acrescenta. Se a criança está na escola, também é importante comunicar para uma atenção especial do professor. Os progressos e resultados são a longo prazo, mas é necessário começar cedo: “Isso mal tratado ou tratamento tardio pode acarretar dificuldades que às vezes irão persistir na idade adulta”.
O que os pais podem fazer para ajudar os filhos em casa:
- Utilizar frases simples
- Falar no tom de voz normal (sem infantilizar)
- Falar com calma
- Se for preciso, fornecer papel e caneta
“A criança que tem apraxia vai falar, mas a gente terá que desenvolver todos os pré-requisitos da linguagem para isso, trabalhando tanto os exercícios de musculatura da fala (lábio, língua e bochecha), como a parte comportamental”, finaliza.