Crianças gastam mais de um terço do dia olhando para telas, aponta estudo

Os dados são de um estudo feito pela empresa de cuidados com a visão, HOYA Lens do Reino Unido e Irlanda e OnePoll. A pesquisa apontou para o aumento de crianças com miopia devido ao tempo nas telas

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Uma criança gasta em média mais de quatro horas e meia do tempo livre por dia em aparelhos eletrônicos. Na prática, isso significa que, tendo como base um dia de 12 horas acordados, tirando o tempo que gastam para comer e dormir, as crianças passam mais de um terço do dia olhando para as telas e apenas 6% dos momentos livres fora delas.

Os dados são de um estudo feito pela empresa de cuidados com a visão, HOYA Lens do Reino Unido e Irlanda e OnePoll. A pesquisa contou com 1500 pais de crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. Com as conversas, os pesquisadores descobriram que 63% dos pais acham difícil colocar os filhos ao ar livre de vez em quando e 22% se sentem tristes com os filhos querendo estar o tempo todo em frente a uma tela.

O estudo também apontou que 59% dos pais não sabem que o tempo ao ar livre e longe de qualquer tela pode atrasar o início de problemas na visão, como a miopia, nos jovens. “A luta para conciliar os benefícios dos dispositivos digitais para o aprendizado, contra as preocupações de que as crianças se tornem ‘viciadas em telas’, é um problema que, suspeito, afeta a maioria dos pais. Sabemos de estudos em todo o mundo sobre os ambientes em que nossas crianças estão crescendo. Os comportamentos que eles adotam estão promovendo a miopia e aumentando as chances desse problema de visão aparecer em uma idade mais precoce do que nas gerações anteriores, tanto aqui no Reino Unido quanto em outros países onde estudos já foram realizados”, aponta a professora Kathryn J Saunders, chefe da divisão de optometria da Universidade de Ulster, ao Mirror.

A professora completou dizendo que pesquisadores já comprovaram relações claras entre ser míope e passar menos tempo ao ar livre durante a infância. “Colocar as crianças fora de casa com mais regularidade, ou por períodos mais longos, durante o dia é uma excelente forma de os pais promoverem uma ‘dieta visual saudável’”, explica ela.

Mudanças com a pandemia

Os dados mostraram que a média das crianças e adolescentes de 6 a 16 anos estão gastando mais de duas horas adicionais por dia nas telas em comparação com os números antes da pandemia. Os pais, porém, não veem uma grande mudança nessa realidade com o fim da pandemia: a pesquisa mostrou que sete em dez pais acreditam que esse aumento veio para ficar.

Mas isso não significa que os pais e responsáveis não estão tentando tirar as crianças das telas. O estudo apontou que 90% dos pais tentam limitar o tempo de tela, mas 49% acham isso muito difícil. Apesar disso, sete em cada 10 acreditam que existem muitos benefícios quando falamos no uso de tecnologia pelas crianças, como educação, manter contato com os amigos e familiares à distância e até melhorar a criatividade.

Estudos brasileiros também constaram o aumento da miopia

Um estudo publicado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia em agosto do ano passado mostrou que a houve um aumento dos casos de miopia em crianças durante o período da pandemia. Para o levantamento, foram ouvidos 295 médicos oftalmologistas, de diversas subespecialidades, entre abril e junho de 2021.

Sete em cada dez médicos identificaram o aumento dos graus de miopia durante as consultas. Desses, 6% apontaram o problema em 75% dos pacientes, outros 27% perceberam a situação em 50% dos pacientes e 67% diagnosticaram o caso em 25% das crianças.

O principal motivo para o aumento estaria relacionado ao uso excessivo de diversos aparelhos eletrônicos, que podem agravar os casos de miopia. 75,6% dos oftalmologistas confirmaram sobre o uso de telas, já outros 22% acreditam que o fator pode sim influenciar, mas apenas no uso de celulares e tablets. O percentual restante dos médicos entrevistados não acreditam que as relações sejam interligadas.

No mundo, o total de pessoas com miopia chega a 2,6 bilhões e, apenas em crianças brasileiras, os números chegam a 6,8 milhões. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema ocular já é visto como uma epidemia e deve atingir até 35% da população mundial até o final do ano. A projeção é de que até 2050 chegue a 52%.

Vale lembrar que além do uso de telas, a miopia também pode estar ligada a fatores como: estilo de vida, ambiente e genética. “É muito importante acompanhar a rotina das crianças e garantir que haja equilíbrio entre o período imerso no mundo digital e o tempo em atividades que não envolvam eletrônicos“, indica a Dra. Alessia Braz, oftalmologista membro da Academia Americana de Oftalmologia e diretora clínica da Univi, mãe de Leonardo

98,6% dos oftalmologistas perceberam ainda que diminuir o tempo de telas, como na televisão, videogames, celulares, tablets, entre outros, ajuda nos casos de miopia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, os pais devem evitar a exposição das telas em crianças com menos de dois anos. Já dos dois aos cinco anos, o uso deve ser limitado a uma hora por dia.

É claro que tudo é uma questão de equilíbrio: esses números não querem dizer que você não deva nunca deixar seu filho com um celular ou tablet na mão, afinal, eles também precisam estar inseridos nesse meio. Mas é importante sempre acompanhar o que seu filho consome online, para garantir a segurança dele e de toda a família. O negócio é saber balancear: um pouco no tablet, um pouco brincando no quintal!

O que é miopia?

A miopia é considerada um erro refrativo que acontece no globo ocular. A partir disso, a imagem dos objetos não recebem o foco adequado, causando a visão turva. Geralmente, costuma surgir um pouco mais tarde nas crianças, exceto nos casos congênitos de altas miopias. “Temos visto cada vez mais cedo as crianças míopes e isso está associado ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos. Ela causa uma dificuldade de visão para longe”, explica a Dra. Bruna Ducca, oftalmopediatra na clínica Eyekids, mãe de José e Felipe.

Sinais de que a criança tem problemas de visão

Nem sempre é fácil de identificar ou explícito, mas seu filho pode te dar alguns sinais de que existe algo errado com a visão. Então, procure um médico especialista caso a criança demonstre:

  • Que está enxergando embaçado
  • Aperta os olhos para enxergar de longe
  • Se aproxima de objetos para ver melhor
  • Dor de cabeça frequente
  • Pisca excessivamente
  • Olhos vermelhos
  • Quedas frequentes
  • Lacrimejamento
  • Coceira frequente
  • Pupilas com aparência branca ou de tamanhos diferentes entre elas
  • Se os olhos parecem não se mexer com sincronia, ou um não se move como o outro
  • Fotofobia
  • Se a cabeça da criança está sempre virada um pouco para o lado (sempre o mesmo lado – pode ser para compensar um estrabismo

Vale lembrar ainda que a criança se adapta facilmente a qualquer tipo de situação, então, ela nem sempre irá demonstrar que não está enxergando ou que existe algum problema de visão. “A percepção da criança é muito diferente do adulto, por isso a importância das consultas de rotina, mesmo que os pais não observem nada nos olhos das crianças, é fundamental”, conclui Bruna Ducca.

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