Neste mês de junho tivemos o Dia da Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil. O intuito desta data é chamar atenção da população – e principalmente das famílias – para os riscos e cuidados necessários para combater a doença. Além das consequências físicas, esse distúrbio também pode desencadear problemas emocionais durante a infância e por isso é essencial que os pais saibam identificar os sintomas desde cedo e buscar ajuda para entender como lidar com os filhos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 41 milhões de crianças menores cinco anos já estão acima do peso. Esse ganho de peso excessivo pode afetar a saúde mental das crianças por conta de problemas como baixa autoestima e imagem corporal.
Diagnóstico da obesidade infantil
O excesso de peso está ligado a fatores genéticos, ambientais e má alimentação. O diagnóstico da doença é feito a partir do Índice de Massa Corporal (IMC). Segundo o Ministério da Saúde, uma criança entre 5 e 10 anos é considerada obesa quando o índice está acima de 30 kg/m². A obesidade mórbida é reconhecida quando o número chega a 40 kg/m².
A condição pode causar danos à saúde das crianças que deve levar os pais a buscarem ajuda médica. A nutróloga Dra. Ana Luisa Vilela explica que crianças obesas não são necessariamente bem nutridas, podendo ocorrer paralelamente à obesidade casos de déficit de Vitamina B12, ferro e Vitamina D. “Por isso, o acompanhamento rigoroso de todas as questões nutricionais das crianças é importante mesmo que não haja o sobrepeso em si. Crianças magras também podem ter deficiência nutricional que precisa ser investigada”, explica.
Além disso, ela também conta que o crescimento da obesidade em jovens é um reflexo dos hábitos alimentares da população, seja pelo consumo de lanches e fast foods – ricos em calorias vazias. “Esses alimentos expõem as crianças ao alto índice glicêmico muito cedo e aumentam o acúmulo de gordura precoce”, pontua.
A médica ainda faz um apelo: “Lembrando sempre que os bons hábitos precisam partir dos pais. Comprar e oferecer bons alimentos é uma excelente opção, além de não apresentar a crianças pequenas alimentos adoçados”, aconselha a profissional.
Como a obesidade afeta a autoestima de crianças?
A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, explica que crianças obesas podem ter dificuldades para aceitar os próprios corpos. A questão é que devido às pressões sociais e bullying, muitas vezes elas são discriminadas pela aparência, fazendo com que essas crianças se isolem mais e se tornem mais propensas a desenvolverem doenças mentais.
”O estigma social em relação à obesidade pode levar a criança a ter uma imagem corporal negativa e uma baixa autoestima. As crianças obesas podem enfrentar comentários negativos sobre sua aparência e podem se sentir desvalorizadas ou inadequadas em comparação com seus pares. Essa percepção negativa de si mesmas pode levar a problemas de autoestima, insegurança e falta de confiança, afetando seu bem-estar emocional e psicológico”, explica.
A Dra. Jéssica enfatiza que a doença pode abalar o bem-estar emocional das crianças, fazendo com que elas estejam mais propensas a desenvolverem transtornos mentais e alimentares. “Estudos mostram que crianças obesas têm maior probabilidade de desenvolver transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de compulsão alimentar periódica e transtornos alimentares, como bulimia e anorexia nervosa, tanto na infância quanto na adolescência e na vida adulta. A relação entre obesidade e transtornos alimentares é complexa e multifatorial, envolvendo fatores biológicos, psicológicos e sociais”.
Como lidar com esse assunto em casa
Para combater e lidar com a obesidade é fundamental que os pais conversem com os filhos de uma forma positiva, para não ferir a autoestima das crianças. Isto porque o jeito que a família aborda esse assunto na infância pode impactar diretamente na relação do filho com o seu próprio corpo na vida adulta. ”A obesidade infantil pode gerar problemas para a vida adulta não só metabólicas como psicológicas”, reforça Dra. Ana.
A Dra. Jéssica também incentiva que a família busque sempre construir um diálogo com crianças para ajudar no bem-estar delas. ”É importante que os pais promovam uma abordagem saudável e positiva em relação à alimentação, atividade física e imagem corporal”, começa ela.
“A criação de um ambiente familiar que valorize a alimentação balanceada, o exercício físico e a autoaceitação pode ajudar a prevenir problemas de saúde mental relacionados à obesidade. É fundamental evitar comentários negativos sobre o peso ou a aparência da criança e enfatizar a importância de um estilo de vida saudável em vez de focar exclusivamente no peso ou na forma corporal”, recomenda.
A psiquiatra acredita que os pais têm um papel fundamental no combate de doenças, seja estimulando hábitos saudáveis para todos os membros da família, que não foque apenas na alimentação da criança obesa. Para isso é importante estabelecer estratégias úteis.
A oferta de opções alimentares saudáveis, o estabelecimento de rotinas de atividade física divertidas e encorajadoras, o envolvimento de toda a família nessas mudanças e o incentivo ao desenvolvimento de uma imagem corporal positiva, valorizando as habilidades e qualidades da criança além da aparência física são algumas das indicações da especialista. “É importante criar um ambiente familiar de apoio e compreensão, onde a criança se sinta amada e aceita independentemente de seu peso ou aparência”, finaliza.