Mesmo durante a pandemia de coronavírus, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apoia a reabertura das escolas e pede para que esse retorno aconteça de maneira segura nas unidades de ensino, seguindo todas as medidas de segurança. Contudo, devido ao isolamento social, há uma preocupação sobre os impactos negativos do desenvolvimento infantil como, por exemplo, o aumento considerável nos casos de ansiedade, depressão e estresse em crianças e adolescentes.
De modo geral, como divulgado em nota nesta sexta-feira, 29 de janeiro, foi avaliado pela Sociedade Brasileira de Pediatria que “não foram implementadas medidas que garantam a segurança para os que frequentam o ambiente escolar de modo presencial. Neste sentido, os estabelecimentos da rede pública de ensino são os mais prejudicados”. Com isso, além de afetar os alunos, o documento avalia que o fechamento prolongado das escolas também pode afetar, de certa forma, as famílias. Portanto, a SBP disponibilizou o manual técnico do “Retorno Seguro nas Escolas”.
Uso de telas
Para dar continuidade ao ensino durante o ano de 2020, as escolas viram como solução aplicar o ensino remoto, mas os especialistas alertaram sobre o uso de telas dos computadores, tablets e celulares. A internet e a estabilidade também pode afetar a qualidade do estudo. “O ensino remoto pressupõe a existência de um computador, não sendo adequadas telas como aquelas do tamanho de um celular, além da exigência indissociável de disponibilidade da internet com qualidade e estabilidade”.
Análises
Para analisar a epidemiologia do momento, a SBP produziu um relatório apontando os novos casos de coronavírus. Durante a primeira quinzena de 2021, foi constatado 54.182 novos diagnósticos diários na média móvel, número recorde desde o início da pandemia. No entanto, pensando no cenário das crianças, a situação é diferente. Elas representam menos de 1% da mortalidade e respondem por 2-3% do total de internações.
Vale lembrar ainda que, segundo a SBP, a maioria apresenta quadros leves e assintomáticos e as situações de Síndrome Inflamatória Multissistêmica, associadas à Covid-19, são de incidência muito baixa. Sobre a situação na volta às aulas, a nota da Sociedade Brasileira de Pediatria explica que:
“As escolas não são ambientes de propagação mais significativos do que outros espaços ocupacionais ou de lazer com densidades semelhantes; quando houver o retorno à modalidade de aulas presenciais, é preciso considerar o esquemas de rodízios com escalas alternadas entre grupos; a necessidade de controle com protocolos de testagens nos casos-índice e nos contactantes; dentre outras questões”.
A importância do planejamento
Ao longo do manual, os especialistas destacam que para o retorno das atividades, é essencial um planejamento estratégico que atenda cada um dos aspectos dos estabelecimentos. Nisso, é preciso levar em conta: “dimensões do prédio e das salas, ventilação dos ambientes, áreas ao ar livre, quantidade e faixa etária dos estudantes, quantidade dos profissionais que atuam na escola, disponibilidade de máscaras, produtos de higienização dos ambientes e das mãos, testagens diagnósticas, dentre outros”.
A escola é um direito do aluno
Roberta Bento, fundadora do SOS Educação e mãe de Tais, reforçou que “a escola é um direito de todas as crianças e adolescentes e o Brasil tem que garantir isso para todos os alunos. Então, a escola aberta é atender o que é um direito desses estudantes”.
Neste momento, Tais Bento defendeu ainda que é importante cobrar por um ambiente com infraestrutura pensando também no pós-pandemia, garantindo o bem-estar dos alunos e de todo o corpo docente: “Nós achamos que é o momento de também lutarmos para isso em todas as escolas, pois é algo que todos merecem mesmo quando a pandemia acabar”.
Veja as recomendações dos pediatras para um ambiente ainda mais seguro dentro da escola:
- Retorno escalonado dos estudantes e profissionais, a escola deve planejar um sistema híbrido de ensino, com parte dos alunos e dos professores mantendo as atividades remotas, enquanto a outra parte recebe aulas e atividades presenciais. Pode haver revezamento de estudantes, tendo aulas presenciais em alguns dias da semana e remotas em outros.
- Planejamento de atividades que favoreçam acolhimento emocional e observação do comportamento, que os professores tenham treinamento para reconhecer e encaminhar de forma precoce crianças com risco de sofrimento psíquico ou com transtornos da saúde física e mental e que sejam definidas equipes de suporte psicológico. Do ponto de vista pedagógico, recomenda-se avaliação diagnóstica.
- Nos meses em que as escolas permanecerem fechadas, deve-se executar adequações na estrutura física, inclusive corrigindo condições preexistentes. São ações no sentido de manter ambientes arejados, com ventilação natural; preparar áreas ao ar livre para atividades privilegiando a natureza para atividades pedagógicas; adequar o espaço livre nas salas para calcular o número de pessoas que irão ocupá-la, mantendo a distância interpessoal de 1m; dotar a escola de adequados equipamentos sanitários em número suficiente, pias ou lavatórios para higienização das mãos, dispensadores de sabonete líquido e álcool em gel.
- Planejar o fluxo de entrada e saída de alunos, familiares e profissionais, para evitar aglomeração nesses espaços. Se possível, usar entradas separadas para fluxo de estudantes, profissionais e fornecedores. Sugere-se horário diferenciado para cada turma.
- Fazer exercícios práticos de como e quando lavar as mãos com os alunos.
- Limpeza terminal, completa, no início ou no final das atividades.
- Limpeza concorrente, durante o funcionamento da escola, especialmente na troca de turnos, quando um grupo de estudantes deixa um espaço, antes que outro grupo venha a ocupá-lo.
- Limpeza imediata, no momento em que ocorrer derramamento de líquidos ou deposição de sujidades, sangue, fezes ou secreções.
- Aferição de temperatura.
- Planejamento do uso de transporte escolar, seguindo as medidas de distanciamento.
- Uso de máscaras.
No documento, a Sociedade Brasileira de Pediatria pediu que nenhum tempo a mais seja perdido para um retorno seguro de crianças e adolescentes ao ambiente escolar: “Todos esses meses de fechamento das escolas não parecem ter determinado atitudes propositivas de investimentos e revisão das condições físicas, materiais e funcionamento das escolas. Nenhum tempo a mais pode ser perdido neste sentido e a sociedade, em geral, precisa cobrar das autoridades esse movimento a partir de planos locais ou regionais de investimentos e ações, voltados para o retorno seguro nas escolas, com análise concomitante do quadro epidemiológico. Este momento de crise deveria ser empregado para melhora das condições dos serviços de Saúde e Educação”. Para ler o material completo, com 18 páginas, clique aqui.