{"id":1112,"date":"2022-06-15T10:00:00","date_gmt":"2022-06-15T13:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/babyfacemagazineonline.com.br\/?p=1112"},"modified":"2022-06-15T18:34:45","modified_gmt":"2022-06-15T21:34:45","slug":"seu-filho-e-uma-crianca-sabe-tudo-entenda-por-que-isso-tem-a-ver-com-autoestima-baixa","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/babyfacemagazineonline.com.br\/seu-filho-e-uma-crianca-sabe-tudo-entenda-por-que-isso-tem-a-ver-com-autoestima-baixa\/","title":{"rendered":"Seu filho \u00e9 uma crian\u00e7a sabe-tudo? Entenda por que isso tem a ver com autoestima baixa"},"content":{"rendered":"\n

A constru\u00e7\u00e3o da ideia de uma\u00a0crian\u00e7a sabe-tudo<\/strong>\u00a0\u00e9 antiga. De cara, quando pensamos nesse perfil, j\u00e1 imaginamos um serzinho que mal entende que o mundo \u00e9 mundo, mas tem consigo a certeza de que n\u00e3o h\u00e1 nada que ele n\u00e3o saiba \u2013 ou n\u00e3o possa saber mais e melhor do que outra pessoa. Ainda que essa imagem nos seja conhecida, \u00e9 preciso dar um passo para tr\u00e1s. Isso realmente \u00e9 um reflexo de quem aquela crian\u00e7a \u00e9 ou da maneira como ela \u00e9 educada por seus pais ou respons\u00e1veis?<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o se cria filho sozinho<\/strong>, isso \u00e9 fato. J\u00e1 diz o ditado: \u00e9 preciso de uma aldeia inteira para educar uma crian\u00e7a. A forma\u00e7\u00e3o da personalidade desse novo ser que come\u00e7a a receber toneladas de informa\u00e7\u00f5es de uma vez s\u00f3, ainda mais quando falamos de nativos digitais, n\u00e3o \u00e9 nada f\u00e1cil \u2013 nem para quem cuida desse\u00a0beb\u00ea, nem para ele. Afinal, o entendimento de uma crian\u00e7a como ser humano (ou seja, sujeito \u00e0 falhas) e n\u00e3o como objeto \u00e9 extremamente recente.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA gente precisa entender que a inf\u00e2ncia \u00e9 uma constru\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica social, inventada h\u00e1 muito pouco tempo atr\u00e1s em v\u00e1rios momentos hist\u00f3ricos, as crian\u00e7as eram tratadas como mini adultos ou invis\u00edveis com suas especificidades. Essa inf\u00e2ncia que a gente conhece hoje foi inventada muito recentemente. Esse lugar que a crian\u00e7a sabe de tudo, ela vem em resposta a esse tempo de invisibilidade, em que a crian\u00e7a n\u00e3o tinha um lugar f\u00edsico e simb\u00f3lico na nossa sociedade\u201d, explica Vanessa Abdo, doutora em psicologia e CEO do Mamis na Madrugada.<\/p>\n\n\n\n

Com a mudan\u00e7a de perspectiva e o novo olhar sobre esse ser em forma\u00e7\u00e3o, tem acontecido um trabalho muito extenso em cima da maneira como a sociedade enxerga as crian\u00e7as \u2013 mas, principalmente, como elas mesmas se enxergam. A autoestima delas, muito relacionada com o ato de ouvir o que se tem a dizer e acolher o que elas sentem, \u00e9 crucial para retir\u00e1-las no lugar de objeto. No entanto, como tudo na vida, \u00e9 preciso encontrar o caminho do meio para que n\u00e3o haja um exagero nesse tipo de cuidado.<\/p>\n\n\n

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Quando o tiro sai pela culatra<\/h2>\n\n\n\n

\u00c9 o que Vanessa chama de efeito colateral. \u201cA crian\u00e7a \u00e9 tratada feito um \u2018reizinho\u2019, como se ela fosse a pessoa mais importante da casa, da fam\u00edlia, daquela situa\u00e7\u00e3o. E isso a faz crescer com a sensa\u00e7\u00e3o de que ela \u00e9 muito especial, muito importante e que os outros \u00e9 que s\u00e3o objetos. Ent\u00e3o, ela coloca as vontades dela acima da das necessidades e da import\u00e2ncia dos demais membros da fam\u00edlia\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Veja bem: isso n\u00e3o coloca a crian\u00e7a no lugar de pessoa maligna e que faz as coisas pensando em colocar os pais em situa\u00e7\u00f5es complicadas. Esse pensamento, que coloca esse ser humano que ainda est\u00e1 aprendendo at\u00e9 mesmo a entender o que sente em momentos dif\u00edceis, \u00e9 o que colabora para que crian\u00e7as ainda sejam vistas como objetos e n\u00e3o o que de fato s\u00e3o: pessoas que podem (e v\u00e3o) cometer erros, que sentem tudo tal qual adultos e possuem como fator de dificuldade para explicar o que pensam e sentem por falta de repert\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

A falta de equil\u00edbrio na hora de educar uma crian\u00e7a gera, por sua vez, a autoestima compensat\u00f3ria \u2013 que, ao contr\u00e1rio do que muitos podem pensar, n\u00e3o \u00e9 o excesso de autoestima, e sim a falta dela. \u201cEsse comportamento denuncia uma autoestima enfraquecida. A sensa\u00e7\u00e3o de frustra\u00e7\u00e3o, de n\u00e3o conseguir dar conta de uma determinada coisa que se espera dela, a crian\u00e7a supre com o jeito \u2018sabe-tudo’\u201d.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o existe vil\u00e3o da hist\u00f3ria. Pais fazem o seu melhor, sempre, para educar o filho seguindo seus valores e pensando no bem dele. Ao mesmo tempo, essa crian\u00e7a absorve as informa\u00e7\u00f5es que recebe de todos os lados \u2013 escola, fam\u00edlia, internet \u2013 e espelha o comportamento dos pais, juntamente com o que lhe \u00e9 afirmado diariamente. Por isso a import\u00e2ncia do equil\u00edbrio.\u00a0\u201cEsse lugar da crian\u00e7a que sabe tudo vem de um exagero que n\u00e3o se sustenta. Porque ao longo do dia ela tamb\u00e9m \u00e9 exposta \u00e0 frustra\u00e7\u00e3o a sentimentos de incompet\u00eancia, de n\u00e3o conseguir fazer as coisas, de jogar uma bola ou responder uma quest\u00e3o de matem\u00e1tica\u201d.<\/p>\n\n\n

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A raiz da quest\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

De onde vem essa crian\u00e7a que, dentro de casa, \u00e9 colocada em um bibel\u00f4 e, quando cai no mundo, se depara com o moinho de Cartola e sonhos triturados? A resposta pode parecer simples, ainda que j\u00e1 saibamos que a teoria \u00e9 sempre mais bonita que a pr\u00e1tica: esse ser com autoestima compensat\u00f3ria nasce no meio das dores, frustra\u00e7\u00f5es e traumas de adultos que, durante o in\u00edcio da vida, tiveram uma inf\u00e2ncia sofrida. \u201cOs pais tentam compensar evitando a qualquer custo que a crian\u00e7a se frustre. Mas isso n\u00e3o \u00e9 vi\u00e1vel. Ela cresce com uma falsa sensa\u00e7\u00e3o de poder, que ela n\u00e3o tem, que n\u00e3o se sustenta. A maior v\u00edtima \u00e9 ela mesma\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Lidar com a frustra\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil, at\u00e9 mesmo para adultos. Confrontar sensa\u00e7\u00f5es desagrad\u00e1veis, vasculhar qual a raiz desse inc\u00f4modo e acolher o que voc\u00ea est\u00e1 sentindo \u00e9 um processo que leva tempo e pede trabalho duro. Mas, principalmente quando envolvemos um ser humano em forma\u00e7\u00e3o nessa conta, esse autoconhecimento \u00e9 ainda mais necess\u00e1rio. S\u00f3 assim \u00e9 poss\u00edvel ajudar seu filho a entender melhor as pr\u00f3prias emo\u00e7\u00f5es dele. \u201cPais e respons\u00e1veis precisam ser modelos de adultos que lidam melhor com essas quest\u00f5es e que exp\u00f5em as crian\u00e7as a desafios de forma saud\u00e1vel\u201d.<\/p>\n\n\n\n

E a internet com isso?<\/h2>\n\n\n\n

\u00c9 importante tamb\u00e9m destacar o papel que a internet tem nessa hist\u00f3ria toda. \u201cA crian\u00e7a acha que, porque ela tem acesso ao Google, ela possui todos os saberes. Mas ela n\u00e3o tem. A crian\u00e7a tem a informa\u00e7\u00e3o, mas n\u00e3o o conhecimento. Isso acontece quando a gente recebe a informa\u00e7\u00e3o e faz uma an\u00e1lise a partir das nossas experi\u00eancias e dos nossos saberes\u201d, explica Vanessa.<\/p>\n\n\n\n

\u201cS\u00f3 o acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o n\u00e3o constitui um \u2018especialista\u2019 daquele assunto. Ent\u00e3o, a gente precisa desconstruir essa ideia de que as plataformas de pesquisa sabem tudo. N\u00e3o \u00e9 verdade, \u00e9 preciso passar pela experi\u00eancia. \u00c9 necess\u00e1rio colocar essa crian\u00e7a para se socializar na pr\u00e9-escola, para viver frustra\u00e7\u00e3o nos esportes e na vida real\u201d.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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